domingo, 15 de março de 2009

O BECO


Que se passa naquele beco
onde nunca estive?
Vislumbro o muro de passagem:
sombras, manchas, rastros
de existência.
*
Quem o habita, se é que o habita
alguém, se é que o beco
existe como existem
seres e coisas que vejo?
*
Quem derrama nesse recanto do universo
o sinal de vida, a marca indelével
da matéria organizada?
*
O que existe fora do meu
alcance de vista? Quem brinca
de esconder quando relembro
o muro caiado, a rua esquecida?
*
O que não vejo, pressinto:
existe mesmo ou é extinto
para mim, ignorado
como esse beco aonde nunca fui?
*
novembro 1980
(de Sol nenhum, 1998)


Poeta:Fernando Antônio Py de Mello e Silva

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