quinta-feira, 30 de julho de 2009

Pensamentos de Arnaldo Jabor

Estamos com fome de amor

"Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão". Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas. E saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.

Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos Orkut, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!".

Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta.

Mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: "vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida".

Antes idiota que infeliz!"


Blake Shelton - Home

Solidão




Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!

Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.

És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sente...
Que plenitude de solidão, mar solitário!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Juan Ramón Jiménez, in "Diario de Un Poeta Reciencasado"
Tradução de José Bento

sexta-feira, 17 de julho de 2009

William Shakespeare


"Depois de algum tempo,você aprende a diferença,a sutil diferença entre dar a mão ou acorrentar uma alma"

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Maria Bethânia recita Castro Alves

Certezas

Não quero alguém que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim...
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível...
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento...e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe...
Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um NÃO que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como SIM.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros...
Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena.
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Mario Quintana

O Profeta disse...

Haverá?! Há sempre uma deusa perdida
Nos labirintos da contradição
Há sempre alguém que usa a palavra amor
Soprando doce veneno ao coração
Há sempre alguém que nos diz coisas tontas
Há sempre alguém que afugenta a Saudade
Há sempre alguém que nos marca a ferro frio
Há sempre uma alma ausente da verdade
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Cântico Negro - José Régio


‘Vem por aqui» — dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
&
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
&
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.
&
Não, não vou por ai! Só vou por onde Me levam meus próprios passos...
&
Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
&
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.
&
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
&
Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
&
Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
&
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: <(vem por aqui»! A minha vida é um vendaval que se soltou. É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, - Sei que não vou por aí! _________________________________________
ANTOLOGIA POÉTICA
José Régio – Edições Quasi - Lisboa – Portugal - 2001
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José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta. que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estréia — "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) — apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.

O VELHO - Chico Buarque(1968)


O velho sem conselhos
De joelhosDe partidaCarrega com certeza
Todo o peso
Da sua vidaEntão eu lhe pergunto pelo amor
A vida inteira, diz que se guardouDo carnaval, da brincadeira
Que ele não brincou
Me diga agoraO que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixarNadaSó a caminhadaLonga, pra nenhum lugar
*
O velho de partidaDeixa a vidaSem saudadesSem dívidas, sem saldo
Sem rival
Ou amizadeEntão eu lhe pergunto pelo amor
Ele me diz que sempre se escondeu
Não se comprometeu
Nem nunca se entregou
E diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixarNadaE eu vejo a triste estradaOnde um dia eu vou parar
*
O velho vai-se agora
Vai-se embora
Sem bagagem
Não se sabe pra que veio
Foi passeio
Foi Passagem
Então eu lhe pergunto pelo amor
Ele me é franco
Mostra um verso manco
De um caderno em branco
Que já se fechou
Me diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Não
Foi tudo escrito em vão
E eu lhe peço perdão
Mas não vou lastimar

domingo, 5 de julho de 2009

Cigarra e formiga - antifábula

Fala-se mal da cigarra,
fala-se bem da formiga,
pois que uma canta e farra
e outra em labor se fatiga.
*
Diz-se que uma só gasta,
e a outra guarda o que tem,
e em sua riqueza vasta
não quer ajudar ninguém.
*
É uma história que se narra,
sem graça, de tão antiga,
e nela nem a cigarra se envolve,
nem a formiga.
*
Ambas nada têm com isso
que seu La Fontaine inventa,
com um fundo moral cediço
de uma fábula odienta.
*
Cada qual cumpre a missão
que lhes deu a natureza;
nada têm com o que dirão
contra a cigarra indefesa.
*
Querem por força lançar
cigarra contra formiga,
a fingir-se um falso ar
de tradição inimiga.
*
Cigarra e formiga juntas
vivem, dando o que falar,
mas não respondem perguntas
de um mundo raso e vulgar.
*
Elas estão muito acima
do que nossa vida engana,
e nenhuma se aproxima
de nossa atitude humana.
*
Não é com cigarra alguma
nem com formiga qualquer
que alguém, a seu modo, assuma
a tolice que quiser.
*
Sem nunca cometer falha,
sem descuidar-se um instante
é que a formiga trabalha
para que a cigarra cante.
*
O canto é tão necessário
quanto o labor. E entre os dois
não se sabe, em seu fadário,
quem vem antes ou depois.
*
O homem, com braço e garganta,
suaviza a sua batalha,
e trabalha, enquanto canta
e canta, enquanto trabalha.
*
O canto é irmão do labor
e, irmãos, se dão por completos,
jamais iriam propor
uma disputa de insetos.
*
Deixe-se a cigarra em paz,
deixe-se em paz a formiga,
e seja o homem capaz
de amar trabalho e cantiga.
*
Não há povo que não cante
nem povo que não trabalhe,
e a poesia é reinante,
no todo em cada detalhe.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Por:José Chagas

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Pablo Picasso, Moça Diante do Espelho/1932


Guideando mais uma vez....

Marisa Monte cantando Mais Uma Vez - Composição:Marisa Monte


Mais uma vez

Eu vou te deixar

Mas eu volto logo pra te ver

Estou com saudades no meu coração

Mando notícias de algum lugar
Eu sei que muitas vezes te fiz esperar demais
Mas, mesmo na distância o meu pensamento voa longe demais
Fico imaginando você sofrendo
Na solidão
Quando vou deitar penso em você
Em seu quarto dormindo
Ahhh!Longe de você meu bem
Longe da alegria
Longe de você meu bem
Longe do nosso lar, mais uma vez....

Give Me Love




Give me love
Give me love
Give me
peace on earth
Give me light
Give me life
Keep me
free from burden
Give me hope
Help me cope,
with this
heavy load
Trying to touch and, reach you
With heart and soul
*
My Love . . .
*
PLEASE take hold of my hand
That I might understand you
Won't you please
Oh! won't you
Give me love
Give me love
Give me peace on earth
Give me light
Give me life
Keep me
free from birth
Give me hope
Help me cope, with this heavy load
Trying to, touch and reach you with,heart and soul
*
My Lord . . .
*
PLEASE take hold of my hand, that
I might understand you
*****************************************************
Composição:George Harrison

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Uma pequena teoria


"As pessoas só observam as cores do dia no começo e no fim,mas,para mim,está muito claro que o dia se fude através de uma multidão de matizes e entonações,a cada momento que passa.Uma só hora pode consistir em milhares de cores diferentes.
Amarelos céreos,azuis borrifados,de nuvens.Escuridões enevoadas....."


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Trecho do livro:A menina que roubava livros - Markus Zusak